quarta-feira, junho 27, 2007

Programa do Encontro Internacional Anarquista na Cidade do México



Nos dias 6, 7 e 8 de julho acontece o “Encontro Internacional Anarquista”
na Cidade do México, abaixo a programação do evento.

> Sexta-feira, 6 de Julho <

Local: Multiforo Cultural Alicia. Av. Cuahutémoc Número 91-A. Col. Roma
(Metrô Niños Héroes o Cuahutémoc)

- 13:30h Registro.

- 14:30h Saudações, boas vindas e apresentação dos/as participantes/as.

- 18:00h Translado de sede.

- 19:00h Chanti ollin.

- Conversação: Presos Políticos no México.
- Conversação: Bloquear o Império.

- 21:30h Comida.

- Maratona de filmes.

> Sábado, 7 de Julho <

Local: FAT, Godard, 20, Col. Guadalupe Victoria (metrô La Raza)

- 9:00h Café da manhã.

- 10:00h Mesas Simultâneas de Trabalho.

1. Mídias livres e anarquismo.
2. Gênero, equidade e liberdade sexual.
3. Ecologismo radical.

- 13:00h Mesas Simultâneas de Trabalho.

1. Abolicionismo.
2. Espaços Autônomos.
3. Pedagogia Libertária.

- 15:00h Recesso e comida.

- 17:00h. Mesa de Palestras.

- Especismo, antropocentrismo e domesticação; as várias caras da dominação.
- América Latina, Revolução e Organização.
- O movimento de objeção de consciência no Estado Espanhol.
- Movimento Indígena na Guatemala; uma visão libertária.
- Anarquistas de Querétaro do Século XIX.

- 22:00h Comida (Okupação Che Guevara).

> Domingo, 8 de Julho <

Local: Okupação Che Guevara. Faculdade de Filosofia e Letras, CU (metrô
universidade)

- 8:00h Café da manhã.

- 9:00h Oficinas.

- “Alternativas para a higiene e a saúde”
- “Grupos de afinidades”
- “Apresentação da complicação de software livre Magon Vive! 0.2.2 Cananea”
- “Oficina Magon GPG (Segurança na Internet)


- 11:00h Mesas simultâneas.

- Anarquismo e Organização.

- 15:00h Recesso e Comida

- 16:00h Plenária.

- Leitura dos resolutivos das mesas de sábado.
- Leitura dos resolutivos das mesas de domingo.

Organização: Biblioteca Social Reconstruir, Multiforo Cultural Alicia,
Federación Ecatepec Anarquista, 5ta Brigada, Okupación Che Guevara, Acción
Antidominante.

Mais infos: biblioteca@libertad.org.mx
|

segunda-feira, junho 25, 2007

Escudo anti-mísseis: ideia maluca ou objectivo racional?



George W. Bush tem feito muita pressão para instalar o que ele chama de escudo de defesa anti­‑mísseis na República Checa e na Polónia. Poucas pessoas acham que esta é uma ideia sã. Enquanto os dois governos leste­‑europeus parecem apoiá-la entusiasticamente, as sondagens mostram que as suas populações estão contra. A Rússia denunciou-o abertamente. A Alemanha tem-no combatido de forma mais calma. O Irão mostrou total indiferença. E Joseph Cirincione, que devotou a sua carreira profissional ao combate à proliferação nuclear, diz que Bush está a impulsionar «uma tecnologia que não funciona contra uma ameaça que não existe».



Trata-se então de uma ideia maluca, mais uma prova de que o regime de Bush é irracional e pouco astuto? Nem tanto. Há um objectivo racional por trás de tudo isto, e nem sequer é segredo.



Comecemos pela pretensa explicação. Bush diz que os Estados Unidos querem proteger a Europa, e em última instância os Estados Unidos, de uma ameaça nuclear feita por um estado pária (leia-se Irão).



A Rússia diz que estes chamados escudos de defesa estão de facto apontados para a própria Rússia, facto que merece o protesto de Moscovo e a ameaça de apontar mísseis à Europa. Os governos checo e polaco não podem realmente estar muito nervosos em relação à ameaça iraniana, mas parecem temer uma ameaça russa. Por isso, o motivo que os leva a estar tão entusiasmados com a ideia é concordarem com os russos – que estas manobras têm a Rússia como alvo. Esta é também, na realidade, a posição da Alemanha em privado. E, também em privado, provavelmente todos os governos europeus ocidentais partilham este ponto de vista.



George W. Bush insiste que tudo isto é falso, que os russos são amigos, e que ele não tenciona ameaçá-los. Diz que os checos e os polacos não têm de escolher entre os Estados Unidos e a Rússia. Podem ser (e deveriam ser) amigos de ambos. Provavelmente, ele acredita em tudo isto, no sentido de que nem Bush nem mesmo os neocons querem que a Rússia se torne num inimigo adicional no século XXI. Que se passa então?



Donald Rumsfeld já nos disse há muito tempo o que se passa. A política do actual governo dos EUA é usar a chamada Nova Europa para constranger e limitar o papel político da chamada Velha Europa – isto é, usar os governos leste­‑europeus contra os governos da Europa ocidental. Os Estados Unidos, especialmente o regime Bush, não querem ver uma Europa forte, que levasse a cabo uma política separada dos Estados Unidos. E pode­‑se dizer que a doutrina Rumsfeld foi razoavelmente bem sucedida até agora. O objectivo de levantar escudos de defesa anti-míssil na Europa do Leste é proteger os Estados Unidos, não contra o Irão e não contra a Rússia, mas contra a Europa ocidental, o que explica a atitude da Alemanha.



O período de domínio soviético sobre a Europa do Leste foi uma experiência altamente negativa para os países­‑satélite, assim como para os vários estados ex-soviéticos que são hoje independentes. Todos eles vivem a síndrome de stress pós-traumático. Forças de direita no interior destes países estão a explorar este medo para favorecer as suas agendas internas. Estas forças não temem verdadeiramente a pressão directa militar da Rússia, ou mesmo a pressão política. Elas temem que a Europa ocidental faça um acordo político com a Rússia, e que elas não sejam tidas nem achadas sobre os termos deste acordo.



Isto também não é inteiramente irracional da sua parte. Houve acordos semelhantes, selados no decorrer dos últimos séculos, e esta é uma séria possibilidade de que venham a ocorrer uma vez mais. Por isso, os países leste­‑europeus estão a proclamar o seu amor imorredouro pelos Estados Unidos (exibido de uma forma tão incrivelmente efusiva na Albânia durante a visita de oito horas de George W. Bush em 11 de Junho).



O objectivo destas tão efusivas proclamações de amizade é duplo: enfraquecer os europeus ocidentais e criar uma situação na qual os Estados Unidos sejam forçados a apoiar os leste-europeus. Esta é uma clássica táctica dos países mais fracos em relação aos países fortes que parecem ser aliados ideológicos. Cuba e Vietname usaram­‑na em relação à União Soviética. A Coreia do Norte usou-a em relação à China.



É uma táctica que funciona frequentemente. Mas tem as suas limitações. O calcanhar de Aquiles de uma táctica como esta é que depende de que continuem as necessidades do país mais forte, neste caso o governo dos Estados Unidos. De momento, os Estados Unidos estão preparados para isso. Mas quando retirarem do Iraque e recalibrarem a sua atitude global para readequá-la à diminuição do seu poder geopolítico, achando que os regimes polaco e checo podem ser menos úteis, pode mesmo desvanecer-se totalmente a sua importância. Neste ponto, os governos leste-europeus ficariam por sua conta – dependentes económica e militarmente dos mesmos poderes europeus ocidentais que agora desdenham, mesmo quando, ou especialmente quando há uma reaproximação Paris-Berlim-Moscovo.



Assim, a curto prazo, a construção de um escudo de defesa anti-míssil na Europa do Leste serve as necessidades dos Estados Unidos e as dos governo leste-europeus. Mas, no longo prazo, tudo indica que os leste­‑europeus estão a apostar num cavalo que pode não acabar a corrida.
|

terça-feira, junho 19, 2007

Cravado no Carmo

Os companheiros do Cravado no Carmo publicaram um novo vídeo, onde é mais do que notória a violência estúpida daqueles que são pagos para ser violentos...e estúpidos.

http://cravadonocarmo.wordpress.com/2007/05/31/material-video-novo-imagens-ineditas/

Numa sala perto de si...
|

segunda-feira, junho 04, 2007

Anti-capitalismo em menos de cinco minutos



Robert Jensen

Sabemos que o capitalismo simplesmente não é o modo mais sensato de se organizar uma economia, mas que, agora, é o único modo possível de se organizar uma economia. Sabemos que os dissidentes dessa sabedoria convencional podem, e deveriam, ser ignorados. Não há mais nem sequer qualquer necessidade de se perseguirem tais heréticos; eles são, obviamente, irrelevantes.


Como sabemos isso tudo? Porque é isso que nos dizem, incansavelmente – geralmente, aqueles que têm mais a ganhar com essa pretensão, sobretudo os que fazem parte do mundo dos negócios e seus respectivos funcionários e defensores nas escolas, nas universidades, nos meios de comunicação de massas e na política convencional. O capitalismo não é uma escolha, mas simplesmente é, como um estado da natureza. Talvez não como um estado da natureza, mas como o estado da natureza. Hoje em dia, contestar o capitalismo é como discutir contra o ar que respiramos. Discutir contra o capitalismo, dizem­‑nos, é simplesmente uma loucura.


Dizem-nos, uma vez após outra, que o capitalismo não é apenas o sistema que temos, mas o único sistema que poderemos ter. Contudo, para muitos de nós, há algo que não convence nessa pretensão. Será essa realmente a única opção? Dizem-nos que nem sequer deveríamos pensar em tais coisas. Mas não podemos deixar de pensar – é esse realmente o “fim da história”, no sentido em que essa frase tem sido usada pelos “grandes” pensadores, para sinalizar a vitória final do capitalismo global? Se esse é o fim da história, nesse sentido, não podemos deixar de nos perguntar: pode o verdadeiro fim do planeta estar longe?


Reflectimos, ficamos inquietos, e esses pensamentos não nos convencem – por um bom motivo. O capitalismo – ou, mais exactamente, o capitalismo corporativo predatório que define e domina as nossas vidas – será a nossa morte se não conseguirmos escapar dele. Encontrar a linguagem apropriada para articular essa realidade é crucial para a política progressista, não em dogmas ultrapassados que alienam, mas em linguagem simples que encontra ressonância entre as pessoas. Deveríamos procurar novos modos de explicar aos colegas de trabalho, nas conversas informais – políticas radicais em menos de cinco minutos – por que devemos abandonar o capitalismo predatório corporativo. Se não fizermos isso, muito provavelmente enfrentaremos o fim dos tempos, e esse fim trará ruptura, e não êxtase ou arrebatamento.


Eis a minha tentativa para uma linguagem sobre este argumento.


O capitalismo é, reconhecidamente, um sistema incrivelmente produtivo que tem criado uma enchente de mercadorias, como nenhum outro sistema conhecido no mundo. É também um sistema basicamente (1) desumano, (2) antidemocrático e (3) insustentável. O capitalismo tem dado a quem está no Primeiro Mundo um montão de coisas (a maioria delas de valor marginal ou questionável) em troca das nossas almas, das nossas esperanças relativas às políticas progressistas e à possibilidade de um futuro decente para os nossos filhos.


Em poucas palavras, ou mudamos ou morremos – espiritualmente, politicamente, literalmente.

1. O CAPITALISMO É DESUMANO


Há uma teoria por trás do capitalismo contemporâneo. Dizem-nos que, porque somos animais gananciosos e egoístas, o sistema económico deve recompensar o comportamento ganancioso e egoísta, se queremos ter sucesso em termos económicos.


Somos gananciosos e egoístas? Claro. Pelo menos eu sou, às vezes. Mas também somos capazes igualmente de compaixão e comportamento desinteressado. Certamente podemos agir de modo competitivo e agressivo, mas também temos a capacidade de solidariedade e cooperação. Em síntese, a natureza humana abrange uma gama muito ampla de comportamentos. As nossas acções estão certamente enraizadas na nossa natureza, mas tudo o que sabemos sobre essa natureza é que ela é amplamente variável. Nas situações em que a compaixão e a solidariedade são a norma, tendemos a agir dessa forma. Nas situações onde a competitividade e a agressão são recompensadas, a maioria das pessoas tende a demonstrar esse tipo de comportamento.


Por que devemos escolher um sistema económico que mina os aspectos mais decentes da nossa natureza e fortalece os mais desumanos? Porque, dizem­‑nos, é assim que as pessoas são. Que evidência temos disso? Vejam como as pessoas se comportam, dizem­‑nos. Onde quer que olhemos, vemos ganância e perseguição dos interesses próprios. Então, a prova de que esses aspectos gananciosos e egoístas da nossa natureza são dominantes é que, quando forçados a um sistema que recompensa o comportamento ganancioso e egoista, as pessoas, com frequência, agem desse modo. Ora, isso não parece um círculo vicioso?


2. O CAPITALISMO É ANTIDEMOCRÁTICO

Esta é fácil. O capitalismo é um sistema de concentração de riqueza. Concentrando-se a riqueza numa sociedade, concentra-se o poder. Existe algum exemplo histórico do contrário?


Para todas as armadilhas da democracia formal nos Estados Unidos, todos compreendem que os ricos ditam as directrizes básicas das políticas públicas que são aceitáveis para a vasta maioria dos representantes governamentais eleitos. As pessoas podem resistir e resistem e, ocasionalmente, um político une­‑se à luta, mas tal resistência exige um esforço extraordinário. Aqueles que resistem conquistam vitórias, algumas delas inspiradoras, mas até à data a riqueza concentrada continua a dominar. É esse o modo de se fazer funcionar uma democracia?


Se compreendemos a democracia como um sistema que dá às pessoas comuns um modo significativo de participar na formação das políticas públicas, ao invés de conferir apenas um papel de endosso às decisões tomadas pelos poderosos, então é claro que capitalismo e democracia são mutuamente exclusivos.


Vamos falar concretamente. No nosso sistema, acreditamos que as eleições regulares, com a regra de uma pessoa/um voto, juntamente com as protecções da liberdade de expressão e de associação, garantem a igualdade política. Quando vou às urnas, tenho um voto. Quando o Bill Gates vai às urnas, ele tem um voto. O Bill e eu podemos ambos falar livremente e associarmo­‑nos aos demais para propósitos políticos. Portanto, como cidadãos iguais na nossa bela democracia, Bill e eu temos oportunidades iguais de exercermos os nossos poderes políticos. Certo?


3. O CAPITALISMO É INSUSTENTÁVEL


Esta é ainda mais fácil. O capitalismo é um sistema baseado na ideia de crescimento ilimitado. Na última vez que verifiquei, este é um planeta finito. Há só duas maneiras de sairmos disso. Talvez tenhamos a esperança de descobrir um outro planeta em breve. Ou talvez, como precisamos de imaginar modos de lidar com essas limitações físicas, inventaremos tecnologias cada vez mais complexas para transcendermos esses limites.


Mas ambas as posturas são igualmente ilusórias. As ilusões podem trazer consolos temporários, mas não resolvem os problemas. Na realidade, elas tendem a criar mais problemas, e esses problemas parecem estar a amontoar­‑se.


É claro que o capitalismo não é o único sistema insustentável que os humanos conceberam, mas é o sistema mais obviamente insustentável, e é aquele em que estamos entalados. É aquele que nos dizem ser inevitável e natural, como o ar.


O CONTO DE DOIS ACRÓNIMOS: TGIF E TINA

A famosa resposta da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher a uma pergunta sobre os desafios do capitalismo foi TINA — There Is No Alternative [Não Existe Nenhuma Alternativa]. Se não existem alternativas, qualquer pessoa que questione o capitalismo é louca.


Outro acrónimo, mais comum, revelador da vida sob o capitalismo corporativo predatório é: TGIF — Thank God It’s Friday [Graças a Deus é Sexta-Feira]. É uma frase que comunica a triste realidade para muitos dos trabalhadores dessa economia – os trabalhos que fazemos não são recompensadores, não são gratificantes e, basicamente, não valem a pena serem feitos. Trabalhamos para sobreviver. Então, à sexta-feira, saímos e embebedamo­‑nos para esquecermos essa realidade, esperando encontrar alguma coisa durante o fim­‑de­‑semana que torne possível, na segunda-feira, conforme as palavras de um compositor, «levantarmo­‑nos e recomeçarmos tudo de novo».


É bom lembrar que um sistema económico não produz apenas mercadorias; produz pessoas também. A nossa experiência de trabalho molda­‑nos. A nossa experiência de consumir essas mercadorias molda­‑nos. Crescentemente, somos uma nação de pessoas infelizes que consomem milhas de corredores de mercadorias baratas, esperando placar a dor do trabalho frustrante. É essa pessoa que queremos ser?


Dizem-nos “Não Existe Nenhuma Alternativa” num mundo onde “Graças a Deus é Sexta-Feira”. Isso não parece um pouco estranho? Será mesmo que não existe alternativa a um mundo desses? Claro que há. Qualquer coisa que seja produto das escolhas humanas pode ser escolhido diferentemente. Não precisamos detalhar um novo sistema com todas as suas especificidades para percebermos que sempre existem alternativas. Podemos encorajar as instituições existentes que fornecem um sítio de resistência (como os sindicatos), enquanto experimentamos novas formas (como as cooperativas locais). Mas o primeiro passo é chamarmos o sistema por aquilo que ele é, sem garantias do que está por vir.


NO ÂMBITO DOMÉSTICO E INTERNACIONAL

No Primeiro Mundo, lutamos com essa alienação e medo. Frequentemente, não gostamos dos valores do mundo que nos cerca; com frequência, não gostamos das pessoas em que nos tornamos; muitas vezes temos medo do que está por vir. Mas no Primeiro Mundo, a maioria das pessoas come regularmente. E isso não acontece no mundo todo. Concentremo-nos não só nas condições que enfrentamos dentro do sistema corporativo predatório, vivendo no país mais rico em toda a história do mundo, mas coloquemos isso num contexto global.


Deixem-me voltar a um dado estatístico que referi no primeiro Last Sunday: metade da população do mundo vive com menos de 2 dólares por dia. São mais de 3 mil milhões de pessoas.


Eis outro dado estatístico que li recentemente: pouco mais de metade da população da África sub­­‑sahariana vive com menos de 1 dólar por dia. São mais de 300 milhões de pessoas.


Que tal mais um dado estatístico? Cerca de 500 crianças em África morrem de doenças associadas à pobreza, e a maioria dessas mortes poderia ser evitada com simples remédios ou redes tratadas com insecticidas. São 500 crianças – não por ano, não por mês, não por semana. Não são 500 crianças por dia. As doenças decorrentes da pobreza reclamam as vidas de 500 crianças por hora, em África.


Enquanto tentamos manter a nossa humanidade, estatísticas como essa podem deixar­‑nos loucos. Mas não venham com ideias loucas sobre mudar este sistema. Lembrem-se da TINA: não existe nenhuma alternativa ao capitalismo corporativo predatório.


TGILS: THANK GOD IT’S LAST SUNDAY [GRAÇAS A DEUS É O ÚLTIMO DOMINGO]


Reunimo­‑nos no Last Sunday justamente para sermos loucos juntos. Encontramo­‑nos para dar voz a coisas que sabemos e sentimos, mesmo quando a cultura dominante nos diz que acreditar e sentir essas coisas é loucura. Talvez todos aqui sejamos um pouco loucos. Então, certifiquemo-nos de estarmos a ser realistas. É importante ser realista.


Uma das respostas mais comuns que ouço quando critico o capitalismo é: “Bem, talvez tudo isso seja verdade, mas precisamos ser realistas e fazer o que é possível”. Por essa lógica, ser realista é aceitar um sistema que é desumano, antidemocrático e insustentável. Para ser realista, dizem-nos, devemos capitular perante um sistema que rouba as nossas almas, nos escraviza a um poder concentrado, e um dia destruirá o planeta.


Mas rejeitar e resistir ao capitalismo corporativo predatório não é loucura. É uma postura eminentemente sadia. Manter a nossa própria humanidade não é loucura. Defender a democracia não é loucura. E lutar por um futuro sustentável não é loucura.


O que é verdadeiramente loucura é crer na trapaça de que um sistema desumano, antidemocrático e insustentável – um sistema que deixa metade dos seres humanos do mundo na mais profunda miséria – seja tudo o que possa existir, tudo o que possa ser, tudo o que sempre será.


Se isso for verdade, então em breve não sobrará nada para ninguém.


Não acredito que seja realista aceitar tal destino. Se isso é ser realista, então direi que estou louco a qualquer dia da semana, a cada Domingo do mês.

Robert Jensen é professor de jornalismo na Universidade do Texas, em Austin, e membro do conselho do Third Coast Activist Resource Center . O seu último livro é Getting Off: Pornography and the End of Masculinity (South End Press, 2007). Jensen é também o autor de The Heart of Whiteness: Race, Racism, and White Privilege e Citizens of the Empire: The Struggle to Claim Our Humanity (ambos da City Lights Books); e Writing Dissent: Taking Radical Ideas from the Margins to the Mainstream (Peter Lang). Pode ser contactado no endereço rjensen@uts.cc.utexas.edu e seus artigos em inglês podem ser encontrados online em http://uts.cc.utexas.edu/~rjensen/index.html .
|

Associação Khapaz



Carta Queixa - Violência policial no Seixal, por Associação Khapaz

Com conhecimento para:

IGAI
Procuradoria-geral da República
Alto Comissariado para os Imigrantes e Minorias Étnicas
Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial
Câmara Municipal do Seixal
Comando Distrital da PSP
Esq. PSP do Seixal
Esq. PSP da Torre da Marinha

Exmos. Srs.,

A Khapaz – Associação Cultural de Jovens Afro-descendentes vem por este meio expor o seu descontentamento em relação à actuação da Polícia de Segurança Publica do Seixal que, ultimamente tem mostrado o maior desprezo e desrespeito pelos direitos humanos, e pelos direitos fundamentais dos cidadãos portugueses consagrados na Constituição da Republica, nomeadamente pelos jovens de origem africana contra os quais têm tido uma conduta agressiva e racista que ultrapassa as suas funções.
Nos últimos 2 meses tem-se verificado um aumento substancial do número de casos de abuso de autoridade e de brutalidade policial por parte dos agentes da PSP do Seixal, que só por si já eram elevados, mas que agora se tornam rotineiros e insuportáveis. Colocam os cidadãos acima referidos numa situação “infra-humana” e instalam um clima de terror social nos bairros da Quinta da Boa-Hora e Quinta do Cabral, para alem de aumentarem o fosso existente entre a polícia e a população juvenil.
Assim e de entre os muitos casos será importante mencionar os seguintes:
No dia 1 de Janeiro, por volta das 3 da madrugada, um grupo de cerca 25 jovens, homens e mulheres, encontravam-se junto ao café “Bolipão” a festejar a passagem de ano com algum ruído que, numa data como esta é aceitável, até que chegaram ao local 2 carrinhas do Corpo de Intervenção da PSP. Os agentes com caçadeiras apontadas aos jovens ordenaram que estes fossem para casa.
Alguns jovens argumentaram que se tratava da passagem de ano e que apenas se encontravam a festejar. Os agentes agrediram bruscamente vários jovens com bastões e punhos de caçadeira. Ao aperceberem-se da gravidade da situação, e surpreendidos pela agressividade injustificada dos agentes, os jovens tentaram abandonar o local e, nisso, três jovens (que tentavam convencer os restantes a abandonar o local) foram atingidos por balas de borracha.
No mês de Janeiro verificaram-se pelo menos 4 “rusgas” ou deslocações por parte da PSP do Seixal ao café “Bolipão” sem que em nenhuma delas tivesse sido apresentado ao proprietário um mandato judicial ou qualquer outro documento.
No dia 26 de Janeiro, às 23:30 cerca de 20 polícias, incluindo agentes do Corpo de Intervenção e da Divisão de Narcóticos entraram no café Bolipão formando um cerco que impedia as pessoas de sair. Dois jovens tinham acabado de chegar do centro comercial Rio Sul e dirigiram-se a esse café onde tinham combinado encontrar-se com outros que se encontravam no interior. Ao chegarem ao Café depararam-se com 3 carros patrulha, 1 carro escola segura e 1 carro descaracterizado. Um dos jovens questionou um dos polícias que impedia a entrada de pessoas se podia entrar, ao que o agente respondeu que não pois estariam a efectuar uma rusga. Questionaram novamente o agente se poderiam aguardar ali ao lado que a rusga terminasse pois esperavam dois amigos que estavam no interior do café, ao que o agente respondeu positivamente. No entanto, segundos depois outro polícia precipita-se sobre os dois jovens aos gritos, ordenando-os que fossem para casa. Estes responderam que não iriam, pois não tinham nenhuma obrigatoriedade de tal. Logo de seguida dois agentes, um fardado e outro vestido a civil agarraram e empurraram os dois jovens com a intenção de os agredir mas um outro jovem que, entretanto já tinha recebido autorização para abandonar o local, agarrou os outros dois no sentido de os afastar do local. Os 3 abandonaram o local e encontraram-se com um quarto jovem que também já tinha saído. Ao afastaram-se um dos policias gritou: “Até me metes nojo! Um branco com mentalidade de preto”. E outro disse: “Devia era metralhar-vos a todos!”. No calor da situação, nenhum dos jovens conseguiu fixar os nomes dos agentes ou matrículas dos carros. No dia seguinte soube-se por parte do proprietário do café que toda a gente no seu interior foi revistada excepto a esposa do mesmo. Segundo o testemunho do proprietário, os polícias entraram no café de caçadeiras em punho gritando isto é uma rusga, sem nunca terem mostrado uma ordem judicial ou qualquer outro documento que validasse a rusga. Inclusive foi solicitada autorização à esposa do proprietário para revistar o armazém.
Dia 03 de Fevereiro: Por volta das 23h, o jovem Gabriel Cruz circulava na EN 10 em direcção à Cruz de Pau e parou em frente as bombas de gasolina da Repsol (num local onde não havia proibição de parar) para largar um passageiro. Segundos depois, um carro patrulha da PSP manda-o encostar. Após ele encostar o carro na berma da estrada sai um agente do carro gritando e ordenando ao Gabriel que saísse do carro de mãos no ar. Este assim o fez e os agentes que tencionavam inicialmente revistar o veículo do jovem, viraram a sua atenção para o mesmo que entretanto ao observar a conduta dos dois polícias protestara com ambos. Após interrogarem o jovem, estes deixaram-no ir embora sem que, em nenhum momento lhe tivessem solicitado o Bilhete de Identidade, Livrete, Carta de Condução ou qualquer outro documento. Não é um caso de brutalidade policial, mas mostra de uma forma muito clara que a polícia tem dois modos de actuação. Um para os imigrantes e classes sociais mais desfavorecidas e um “mais cordial” para o resto da população…
Dia 19 de Fevereiro: A Associação Khapaz promoveu uma festa de Carnaval na sua sede. Por volta das 21h registou-se uma pequena desavença entre alguns jovens da Arrentela e alguns jovens do bairro de Vale de Chicharros – Fogueteiro. A festa terminou às 22h em ponto conforme previsto na lei. No entanto, e devido a uma pequena desavença entre dois jovens, a PSP do Seixal e a GNR da aldeia de Paio Pires foi chamada ao local. Passado muito tempo, às 22h em ponto e já após ter sido resolvido o problema, um espectacular aparato policial digno de um cenário de Lei Marcial chegou ao local. Da parte da PSP: 1 veiculo escola segura, 3 carros patrulha, 3 veículos descaracterizados da Brigada de Narcóticos e 2 Carrinhas do Corpo de Intervenção Rápida. Da parte da GNR deslocou-se ao bairro uma Carrinha do Corpo de Intervenção e um jipe de patrulha. No entanto, estes veículos não chegaram todos ao mesmo tempo.
Os primeiros veículos a chegar ao local foram alguns carros patrulha da PSP, o veículo escola segura e o jipe da GNR. Estes veículos estacionaram junto ao muro que fica em frente ao parque infantil da Boa-Hora, sendo que inicialmente os agentes nada fizeram. Algumas raparigas que se cruzaram com estes agentes testemunharam que um dos polícias diria que apenas estavam a espera da ordem da esquadra para “bater nos pretos”. Assim que as carrinhas do CIR chegaram ao local, os agentes dirigiram-se aos jovens ordenando-os que fossem para casa. Alguns jovens com medo da actuação da polícia refugiaram-se no café “Bolipão”. Os agentes do CIR dirigiram-se prontamente ao café, agredindo violentamente todos os clientes (homens e mulheres) que se encontravam no interior do café com bastões e punhos de caçadeira. Foram disparados alguns tiros de aviso para o ar e algumas pessoas que se encontravam nas suas casas a observar a actuação desmedida da polícia foram ameaçadas por alguns agentes para que fossem para dentro de casa e fechassem as janelas. Alguns indivíduos que nem se encontravam no local mas que entretanto chegaram, foram autenticamente espancados por grupos de polícias por reagirem à actuação da polícia. Este espectáculo “Hollywoodesco” desenrolou-se pela noite dentro sendo impossível relatar todas as ocorrências dessa noite.
O facto desta zona estar referenciada como um “Bairro problemático” não atribui à polícia a legitimidade para tratar alguns indivíduos da forma que trata. Primeiro porque a grande maioria das pessoas que aqui estão trabalham e/ou estudam, não podendo ser constantemente tratadas como suspeitas de algum crime e segundo, porque mesmo estando a cometer um crime, as pessoas têm os seus direitos e a policia tem apenas que cumprir o seu dever, o qual não passa por agredir física e moralmente os cidadãos. As leis existem para ser cumpridas por todos, mas a polícia tem revelado um profundo desrespeito pelas mesmas, mostrando que está acima delas. Lembramos que os policias não são juízes e portanto não lhes cabe julgar as pessoas na rua. No entanto parece-nos que esta separação de papéis não é clara para a polícia. Tendo em conta que todas estas acções resultaram apenas na apreensão de 0,25 gramas de cocaína, perguntamos qual é a justificação para tais actos e qual o crime que temos estado a cometer. Arriscamos dizer que o crime em causa é o facto de sermos negros e estarmos na rua aquela hora. Enquanto a polícia aponta os seus recursos para este tipo de policiamento incidente nos bairros pobres que concentram minorias étnicas, jovens neo-nazis sentem-se livres para em plena luz do dia (às 15h00) andarem a grafitar palavras de ordem fascistas nas paredes da Faculdade de Letras de Lisboa sem que nada seja feito, como ocorreu no passado dia 15 de Março sob o olhar atento da polícia que se encontrava no local.
Os diferentes relatórios que vão saindo quer em Portugal quer no estrangeiro (SOS Racismo, IGAI, Amnistia Internacional, Departamento de Estado Americano, União Europeia - ECRI) não se cansam de referir as mortes acidentais perpetradas por agentes policiais (a que mais mata em toda a Europa dos 25), a violência gratuita que tem sido o cartão de visita das nossas polícias e o comportamento discriminatório por parte das mesmas. De facto, o ultimo relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI na sigla em Inglês), indica claramente que as policias Portuguesas “...continuam a integrar elementos que manifestam um comportamento discriminatório impróprio duma democracia...”. Na apresentação do mesmo relatório Marc Leyenberger lembrou ainda que Portugal ainda não ratificou o protocolo nº12 à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que proíbe toda e qualquer tipo de discriminação.
Lamentamos que, numa altura em que o mesmo Marc Leyenberg no mesmo relatório diz que “Globalmente, Portugal não é um país racista, mas existe um ambiente perigoso”, e que o Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas no Nº47 do seu boletim BI diga que “Regista-se em Portugal uma notável paz social em torno da questão da imigração, marcada pela ausência de crises graves de xenofobia, racismo ou simples hostilidade generalizada perante os imigrantes”, as coisas sejam bem mais graves que isso.
Não só na Arrentela mas em vários bairros da Margem Sul e de Lisboa a polícia “faz o que quer”, na sombra dos mesmos jornalistas que não hesitaram em publicitar um “arrastão”, mas para quem a agressão de jovens negros por parte da polícia não é digno de noticia. Impunes ou até protegidos, os agentes da polícia têm o caminho livre para continuar. Talvez estejamos a viver num outro Portugal porque há muito que sentimos o “ambiente perigoso” nas nossas costas, não podendo, portanto, falar em “paz social”.

A Associação Khapaz
Março de 2007
|

A liberdade de expressão como desculpa



A polémica gerada pela decisão do presidente venezuelano Hugo Chávez de não renovar a concessão da RCTV, está a mostrar a forma de operar das direitas latino­‑americanas que consiste em repetir os mesmos argumentos expedidos pelas fábricas globais dos Estados Unidos e da Europa.


Assim que se escarva no magma informativo provocado pela não renovação da concessão da RCTV, constata­‑se que as opiniões dos meios de comunicação e de inúmeros “analistas” do Sul mostram o que verdadeiramente são: repetidores das ideias difundidas pelos think tanks do Norte. Por isso, convém ir por partes para ver quem fornece as ideias e quem se faz de distraído, como se a liberdade de expressão não tivesse uma longa e triste história que, neste continente pelo menos, inclui um amplo leque de violações: desde jornalistas desaparecidos até esse pertinaz gotejo de despedimentos de trabalhadores dos meios de comunicação.


QUEM FORNECE AS IDEIAS


As fábricas do pensamento conservador estadunidenses e europeias são as que estão por trás de boa parte dos argumentos expostos pelos jornalistas e políticos da direita latino­‑americana. Até agora eram os centros de estudos dos Estados Unidos os que maior influência tinham na região. Mas isso parece estar a mudar. Um bom exemplo é a espanhola FAES (Fundação de Análise e Estudos Sociais) a partir da qual o ex­‑presidente José María Aznar – que se identifica com o franquismo, como demonstrou o seu partido nos últimos meses – influi nos partidos de direita da América Latina. «Uma agenda de liberdade» intitula-se o último relatório para a região que foi apresentado em fins de Maio em Buenos Aires e São Paulo. O relatório define os problemas deste continente: o «populismo revolucionário», o «neo­‑estatismo», o «indigenismo racista» e o «militarismo nacionalista».


O relatório de Aznar sustenta que os partidos de direita do nosso continente (liberais, democrata­‑cristãos e conservadores) devem propor­‑se «o objectivo comum de derrotar democraticamente o projecto do “socialismo do Século XXI”». Em paralelo defende que os Estados Unidos tenham uma presença mais activa na América Latina. Quão democrático é o caminho proposto por Aznar revelam­‑no os seus contactos locais. Na Argentina apresentou o seu relatório juntamente com o analista Rosendo Fraga, que apoiou a última ditadura militar que provocou o maior genocídio na história desse país. No Brasil fê­‑lo junto a Jorge Bornhausen, dirigente do Partido Democrata (ex Partido da Frente Liberal), o mais próximo à ditadura militar dos anos 60. Estas são as amizades de Aznar que, apesar disso, qualifica o governo de Chávez como «sinistro» e «totalitário».


Para além das pessoas, interessa observar como os meios de comunicação reproduzem as análises que emitem essas fábricas do pensamento conservador. Um dos meios mais influentes do continente é o diário argentino La Nación, partidário de todas as cruzadas anti­populares e fiel representante dos interesses das multinacionais. No Domingo 27 publicou um relatório de uma página a seis colunas intitulado “A imprensa da América do Sul, em mira”. A jornalista detém-se no que considera como «uma guerra entre a imprensa e o governo» e fá­­‑lo repassando a situação em sete dos dez países do subcontinente: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Uruguai e Venezuela. Deixa de lado três países nos quais, tudo indicaria, a liberdade de imprensa não está ameaçada: Colômbia, Paraguai e Peru. Em suma, optou pelos governos que com maior ou menor ênfase colocam reservas ao modelo neoliberal.


Chama a atenção a dureza com a presidente chilena Michelle Bachelet. Com base numa “fonte” que preferiu «manter­‑se no anonimato», a jornalista conclui que «a presidente tem uma obsessão pelas fugas de informação» que atribui à «sua mentalidade mais ideológica» relativamente ao seu antecessor Ricardo Lagos, pelo que «muitos canais de informação se fecharam». Fala inclusive de que alguns correspondentes estrangeiros se queixaram de «maltrato oficial» pelo seu escasso contacto com os meios de comunicação.


Luiz Inácio Lula da Silva também não se sai bem. Acusa-o de que a sua ligação com a imprensa «nunca foi muito intensa», que «evita o contacto com os meios de comunicação cada vez que pode» e que «comparativamente com Bachelet, Lula levou o hermetismo um passo mais além». E de ter criticado a imprensa por publicar «só más notícias». Neste crescendo de La Nación, Tabaré Vázquez ocupa o terceiro lugar. «O seu governo costuma acusar os meios de comunicação de “conspirações e complôs” e o mandatário chegou a difundir, em 2006, uma lista negra de meios de comunicação a quem acusou de integrar a “oposição”». Recolhendo um relatório de Março passado dos empresários da imprensa (Sociedade Interamericana de Imprensa) sustenta que existe um «fustigamento contra a liberdade de imprensa e contra a imprensa independente». Com Néstor Kirchner La Nación é implacável, sendo o de «autoritário» o qualificativo mais suave que lhe é endossado.


O prato forte são os governos mais duros com Washington e com os organismos financeiros internacionais. Segundo o diário argentino, Chávez abriu o caminho do «ferrolho à liberdade de expressão» que tanto Evo Morales como Rafael Correa estão a começar a percorrer. A tese que sustenta estas afirmações é interessante: como os partidos políticos se esvaziaram e já não são representativos, os meios de comunicação assumem o papel de encabeçar a crítica e, por esse motivo, são castigados por esses governos. A conclusão vem quase no início do artigo: «Desconfiados e suspicazes, os governos regionais adoptam, cada vez mais, a confrontação como estratégia relativamente à imprensa». Dito de outro modo: agora que os neoliberais não controlam os estados nem contam com partidos com apoio de massas à sua disposição, não têm outra saída que não seja apoiar­‑se nos meios de comunicação para fazer prevalecer os seus interesses.


UM CASO PARADIGMÁTICO



O jornalista espanhol David Carracedo acaba de publicar um exaustivo relatório no qual mostra que, nos últimos anos, 293 meios de comunicação de todo o mundo sofreram encerramento, revogação ou não renovação das suas licenças: 77 emissoras de televisão e 159 rádios em 21 países. Só na Colômbia, 76 rádios comunitárias foram encerradas. Em Março deste ano, a TeleAsturias (Espanha) viu revogada a sua onda de transmissão por motivos técnicos. O relatório não inclui o encerramento da Rádio Panamericana do Uruguai, pelo que vale a pena recordar o maior atentado contra a liberdade de expressão desde o regresso do regime eleitoral em 1985.


No dia 26 de Agosto de 1994 uma resolução do governo presidido por Luis Alberto Lacalle encerrou por 48 horas as rádios Panamericana e Centenario por terem transmitido os acontecimentos do Hospital Filtro do dia 24 de Agosto. Nesse dia produziu-se uma concentração contra a extradição de vários cidadãos bascos detidos nesse hospital acusados de pertencer à ETA. A tentativa dos manifestantes de impedir a extradição provocou uma forte carga policial que se saldou por um morto e dezenas de feridos, alguns graves. No mesmo dia em que se decretavam os encerramentos temporários, outra resolução revogava a autorização outorgada à Panamericana.


Os partidos Colorado e Nacional respaldaram o Executivo. A associação dos proprietários dos meios de comunicação, ANDEBU, teve sérias dificuldades para chegar a um acordo interno que lhe permitisse um pronunciamento público. Duas semanas após o encerramento da Panamericana, a ANDEBU expressou «a sua preocupação com os procedimentos realizados pelo Poder Executivo». Mas não deixou de manifestar, no mesmo comunicado, «preocupação pelo conteúdo das emissões da Rádio Panamericana» que tinha convocado às manifestações em solidariedade com os bascos, «por serem contrárias aos princípios que regem a conduta dos membros da radiodifusão uruguaia». Uma declaração que contrasta vivamente com a emitida há dias atrás contra a não renovação da permissão à RCTV, que definiu como «uma gravíssima agressão contra a liberdade de expressão».


O ex presidente Julio María Sanguinetti disse nestes dias que «a Venezuela está a entrar num terreno muito preocupante de deterioração da democracia» e assegurou que o caso da RCTV significa «um colapso da liberdade». Os nacionalistas, que eram governo em 1994 quando se encerrou a Panamericana, asseguraram que a decisão de Chávez é «uma violação aos direitos humanos» e o presidente desse partido, Jorge Larrañaga, declarou que «é um ataque à liberdade de imprensa, um atentado contra as liberdades públicas, o que prova que o regime do senhor Chávez é um regime coxo do ponto de vista democrático».


O contraste entre os acontecimentos de 1994 no Uruguai e as atitudes actuais da direita a respeito da RCTV, colocam em evidência que a tão referida liberdade de expressão é apenas uma desculpa para atacar e derrubar governos que procuram sair do modelo neoliberal. E que, órfãos de apoio popular, só o podem fazer provocando situações de grande instabilidade que criam as condições para golpes de Estado. É a estratégia delineada por Aznar, fiel amigo de Bush, Blair e Sarkozy.
|

sexta-feira, junho 01, 2007

G8 TV - EMISSÕES DIÁRIAS E EM DIRECTO

http://G8-TV.ORG

ESTA SERÁ A TELEVISÃO OFICIAL DOS PROTESTOS ANTI-G8, ASSIM COMO UMA DAS BASES ONDE SE PODE ACEDER A INFORMAÇÃO SOBRE O ENCONTRO.

ESTEJAM ATENTOS
|

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
Ring Owner: Poli Etileno Site: Os Ambientalistas
Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet Free Site Ring from Bravenet
Site Ring from Bravenet

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Powered by Blogger