quinta-feira, março 15, 2007

A DESOBEDIÊNCIA CIVIL

por Henry David Thoreau

Aceito com entusiasmo o lema "O melhor governo é o que menos governa"; e gostaria que ele fosse aplicado mais rápida e sistematicamente. Levado às últimas consequências, este lema significa o seguinte, no que também creio: "O melhor governo é o que não governa de modo algum"; e, quando os homens estiverem preparados, será esse o tipo de governo que terão. O governo, no melhor dos casos, nada mais é do que um artifício conveniente; mas a maioria dos governos é por vezes uma inconveniência, e todo o governo algum dia acaba por ser inconveniente. As objecções que têm sido levantadas contra a existência de um exército permanente, numerosas e substantivas, e que merecem prevalecer, podem também, no fim das contas, servir para protestar contra um governo permanente. O exército permanente é apenas um braço do governo permanente. O próprio governo, que é simplesmente uma forma que o povo escolheu para executar a sua vontade, está igualmente sujeito a abusos e perversões antes mesmo que o povo possa agir através dele. Prova disso é a actual guerra contra o México, obra de um número relativamente pequeno de indivíduos que usam o governo permanente como um instrumento particular; isso porque o povo não teria consentido, de início, uma iniciativa dessas.

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Algo fede no reino da Dinamarca

O centro da juventude de Copenhaga, ocupado e cedido pelo governo
dinamarquês aos ocupantes em 1982 (Ungdomshuset), importante
centro de acção cultural e alternativa, por onde passaram nomes
como o de Björk, foi recentemente vendido a uma seita religiosa,
dando início a uma luta por amor à casa e ao que esta significa.

Não se chegou a isto subitamente ou por azar. O país atravessa,
tal como o resto da Europa, uma fase em que desenvolve formas
terríveis de pressão psicológica, tendo chegado a impôr limites
físicos aos protestos de imigrantes, no seguimento do caso das
caricaturas de Maomé. Para os dinamarqueses, pensar de uma
forma diferente é, hoje, motivo de desconfiança.

Outras áreas de automomia que tinham tornado este país numa
ilha de tolerância e liberdade foram sufocadas. Cristiania, a
célebre "Cidade Livre de Criastianhagen", é invadida diariamente
pela polícia sob o pretexto da luta contra a droga. As intenções
são óbvias. Estes antigos quarteis habitados por jovens e menos
jovens encontram-se nos limites da nova construção da Ópera de
Copenhaga, oferecida à cidade pelo magnata dos transportes
marítimos Maersk, o homem mais rico do país. A questão é que o
espaço da "cidade livre" deverá servir para os estacionamentos
e albergues que têm que vender Coapenhaga aos turistas.

Mas nem mesmo nas escolas ou universidades o clima de repressão
é melhor, depois da reforma universitária que conferiu um carácter
de empresa às universidades e que conduziu à suspensão daquela
"ovelha negra", verdadeira célula vermelha do pensamento crítico,
que era a Universidade de Roskilde.

O despejo do Ungdomshuset teve como resultados o erguer de
barricadas, manifestações pacíficas violentamente atacadas pela
polícia, motins, batalhas de rua, detenções em massa (que incluíram
uma portuguesa, libertada há alguns dias apenas), diversas acções
de solidariedade em diversas cidades - sobretudo do Norte da Europa
- e o despejo do colectivo da cruz negra anarquista da Dinamarca.

Às sete da manhã de quinta-feira dia 1 de Março, a vizinhança foi
acordada pela polícia e militares, que chegaram para arrasar o
Ungdomshuset. Porém, não foi tão fácil como tinham previsto: as
autoridades viram-se confrontadas com muitas barricadas à volta e
no interior da casa. A polícia foi ela própria afectada pelo gás
lacrimogéneo que tinha atirado para o interior da casa através das
janelas. Ocorreram combates de rua ao longo do dia, tendo as linhas
da polícia recuado por diversas vezes.

De acordo com o Indymedia da Dinamarca, no dia 1 de Março "foram
detidas 219 pessoas. Os confrontos prosseguiram esporadicamente
ao longo da noite em vários locais de Copenhaga. A polícia conseguiu
prender muitos activistas ao abrigo da norma de «percepção pública
de justiça» (pessoas que cometam crimes deverão ser punidas),
intimidando assim os activistas que ficam detidos e apenas podem
contestar as razões da detenção em tribunal".

As fronteiras da Dinamarca foram controladas e o governo dinamarquês
chegou mesmo a ponderar a opção de as encerrar mais tarde. A ponte
de ligação com a Suécia tem neste momento um posto de controlo
instalado e a funcionar.

As notícias do Ungdomshuset Solidarity da manhã de quinta-feira davam
conta da existência de algumas pessoas hospitalizadas, entre as quais
alguns estrangeiros. Imensas foram as manifestações de solidariedade
dentro e fora da Dinamarca. Na noite de sexta para sábado, em Nørrebro,
ocorreram graves confrontos entre cerca de 1500 a 2000 participantes
numa festa de rua, preparados para se dirigirem ao Ungdomshuset, e a
polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo. Um carro da polícia foi
incendiado e tijolos atirados aos agentes. Dois manifestantes foram
feridos.

No sábado, dia 3 de Março, a polícia dinamarquesa invadiu várias casas,
alegadamente à procura de estrangeiros. Cerca de 90 pessoas, metade
delas dinamarquesas, foram presas, entre as quais membros da Cruz Negra
Anarquista. A polícia admitiu ter usado gás lacrimogéneo para entrar no
colectivo da Cruz Negra, imediatamente desalojado.

Na manhã de 5 de Março a casa começou a ser demolida.

Foram presos 400 activistas entre 1 e 3 de Março. No rescaldo dos
acontecimentos, foram detidas 643 pessoas, estando mais de uma centena a
aguardar julgamento.
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Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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